domingo, 19 de abril de 2015

À Espera

Hoje era um dia especial, por isso acordou cedo. Lavou o rosto e vestiu roupas leves, queria correr pelo bosque para aliviar a tensão. Ao passar velozmente pelas árvores e arbustos, um borrão verde era criado nos seus olhos, o farfalhar das folhas invadia seus ouvidos, o cheiro do orvalho impregnava em suas narinas... mas na sua mente só havia ela.

Lembrou de segunda, quando sentado no banco da praça à viu pela primeira vez, na verdade poderia ter a visto outras vezes mas foi a primeira vez que reparou de fato, muito talvez por ela o estar observando e logo ao notar o encontro de olhares, disfarçar. Foram apenas dois segundos daquelas grandes esmeraldas o encarando, o suficiente para fisgá-lo.

Lembrou de terça, quando fingiu não estar ansioso ao sair do trabalho e sentar no mesmo lugar esperando encontra-lá. Não se decepcionou, lá estava ela, com um belo chapéu fazendo sombra em sua face "monalistica". Observava algumas crianças atirarem pedrinhas na fonte com um sorriso, daquele tipo de sorriso que contagia qualquer um.

Lembrou de quarta, quando decidido a tomar uma atitude, se esvaziou como um balão ao não encontra-lá em seu lugar de costume. Ficou inquieto, justo quando se resolveu ela não estava ali. Passaram-se cinco... dez... quinze minutos, para ele pareciam horas. Ao se levantar cabisbaixo para ir embora à viu chegar. Como já estava em pé foi em sua direção mas já não sabia o que dizer. Ao passar por ela apenas fez uma aceno de cabeça e sorriu. Ela retribuiu cordialmente.

Lembrou de quinta, quando dessa vez ele se atrasou, seu chefe o deixou cuidando de uma papelada extra. Foi correndo, segurando seu chapéu para não voar pra trás, desviando do jornaleiro de gritava na esquina e se desculpando da pobre senhora que quase atropelou. Chegou esbaforido e à viu com um pequeno livro nas mãos, luvas de crochê repousavam sobre seu colo. Decidiu não interrompê-la.

Finalmente lembrou de sexta, quando já havia se acostumado com aquele suspense, já não queria quebrar o encanto, aquela coisa intangível, que existia apenas em sua mente, que já não cabia no seu peito. Novamente ela estava lá, ele também. Novamente decidiu não se pronunciar.

Mas hoje não, não deixaria passar a oportunidade. Sábado era um bom dia, teria tempo de se preparar. Suado de sua corrida tomou um bom banho, bem demorado e relaxante. Penteou o cabelo com esmero, não estabeleceu limites para o uso de sua colônia. Vestiu sua melhor camisa e escolheu a gravata verde, para combinar com os olhos dela. Foi ao barbeiro, pediu para caprichar mas deixar o bigode pra dar aquele charme. Já passara do meio dia quando decidiu ir ao engraxate. Ainda se demorou um pouco pensando no que dizer. Bom a hora tinha chegado.

Quando chegou na praça, que estava com bastante movimento por ser final de semana, sentou em seu banco de costume onde um senhor enrugado lia seu jornal. Olhou pro lugar onde estava. Nunca estivera tão linda, um belo vestido florido, um chapéu de feltro e ainda ostentava lábios bem vermelhos. Suspirou, agora era a hora. Levantou.

...

...

...

Sentou.

Um rapaz com quem ela aparentemente já estava conversando lhe trouxe um sorvete, os dois riam juntos. Ela havia cansado de esperar por ele.

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